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Foto do escritorThiago Castro

Como e por que investir no exterior

Entre as principais razões para investir fora do Brasil, está a preservação do poder aquisitivo do investidor. A cada crise o real desvaloriza e investir no exterior ajuda a proteger o patrimônio.






Diversificar investimentos, buscar maiores retornos, planejar uma viagem, aposentadoria, ou simplesmente proteger o patrimônio em moeda forte. São vários os motivos que estão levando um número cada vez maior de brasileiros a investir no exterior.

Entre as vantagens destaca-se que, além de ficar exposto às moedas fortes, lá fora existem mais alternativas para se aplicar e um ambiente mais competitivo e mais propício a fazer negócios. Com isso o risco tende a ser menor.


Entre as principais razões para dar esse passo, está a preservação do poder aquisitivo do investidor. Nossa moeda é muito sensível ao ambiente político tanto interno quanto externo. A cada crise o real desvaloriza e investir no exterior ajuda a proteger o patrimônio.


A pandemia fez o câmbio disparar com a aversão ao risco. Além disso, o investidor brasileiro ficou de fora do crescimento de um dos setores que mais se fortaleceram e expandiram no período, o de tecnologia – que não é bem representado aqui.


Vantagens de ter investimentos no exterior

Para muita gente, os produtos financeiros disponíveis no mercado local são suficientes. Mas investir no exterior abre um mundo de novas possibilidades.


Na B3, a bolsa brasileira, são negociadas ações de um número restrito de empresas – cerca de 1% das existentes no mercado global, com pouco mais de 300 empresas. Enquanto isso, nas bolsas norte-americanas são mais de cinco mil – quase a metade de todo o mercado de ações no mundo. O que te permite ter uma carteira diversificada globalmente, com investimentos de emissões européias, chinesas etc. Quem investe apenas localmente, portanto, tem bem menos chance de diversificar o portfólio em setores variados.


Fora isso, há a questão da segurança. A economia brasileira deixou os dias de instabilidade extrema para trás, lá nas décadas de 1980 e 1990. No entanto, a volta da inflação é um temor recorrente. O dinheiro mantido fora do país, atrelado ao dólar, costuma estar mais bem protegido de problemas desse tipo.


Também é importante considerar que o investimento no exterior pode ajudar a balancear os resultados de um carteira nas épocas em que os mercados locais – renda fixa e renda variável – não vão bem. Imagine que uma medida imposta pelo governo modifique a tributação das empresas brasileiras. Se todo o seu dinheiro está aplicado em produtos locais, é provável que seu portfólio inteiro sinta um pouco do impacto dessa decisão.


O que considerar para investir fora do Brasil

Por muito tempo, investir no exterior foi um tabu. Era visto como algo muito trabalhoso e um privilégio para os mais ricos. Com algumas mudanças regulatórias e o desenvolvimento de novos produtos, isso se tornou uma tarefa bem mais simples. Por isso, a quantidade de investidores interessados em aplicar lá fora cresce ano após ano.


Ainda assim, existem aspectos comportamentais e burocráticos para avaliar antes de encarar os investimentos fora do Brasil. Lembre-se que se investir localmente já exige estudo e dedicação, para aplicar lá fora isso é ainda mais importante. É preciso estar disposto a ler sobre as opções que podem te interessar.


Como algumas formas de investimento embutem custos adicionais, também é importante avaliar o valor que você está disposto a mandar para fora. É preciso verificar se o esforço compensa. Peça a ajuda de especialistas para fazer essa conta antes de tomar uma decisão.


Do ponto de vista burocrático, algumas formas de investir no exterior são tão simples quanto investir em uma ação ou um título público brasileiro (você vai saber mais sobre isso logo abaixo). Outras, nem tanto.


Você talvez tenha de dedicar alguns minutos adicionais à sua declaração de Imposto de Renda, por exemplo. Isso porque todo brasileiro que tiver mais de US$ 100 mil fora do Brasil no dia 31 de dezembro de cada ano deverá informar à Receita Federal a existência desses bens na declaração do ano seguinte.


Além disso, terá de entregar anualmente ao Banco Central uma declaração específica de bens no exterior.


Passo a passo de como investir no exterior

É importante ressaltar que nem é preciso sair do Brasil para investir no exterior. Lembre-se também que você não precisa ser rico, nem ter muito dinheiro para ter aplicações lá fora.


É possível dividir as opções de investimento no exterior em dois grandes grupos. O primeiro grupo contempla as alternativas que não exigem enviar o dinheiro para fora. No segundo, estão as que demandam, sim, uma transferência internacional.


Dá para começar usando as ferramentas disponíveis em território brasileiro para dolarizar seus investimentos. Você pode acessar esses investimentos pelas plataformas de corretoras locais de sua preferência. Há três maneiras de fazer isso estando no Brasil, BDR, ETF, COE e Fundos de Investimentos. Ou, você pode abrir também uma conta numa corretora e mandar dinheiro para fora para negociar as ações diretamente no país de destino. Entenda cada uma das opções:


1. Fundos de investimento

Os fundos de investimento são uma das maneiras mais simples de investir no exterior sem precisar mandar dinheiro para fora do Brasil. Na verdade, é possível que algum fundo seu já aplique em ativos estrangeiros sem que você nem tenha se dado conta.


Isso porque fundos destinados aos investidores de varejo podem destinar até 20% do patrimônio para ativos financeiros no exterior, desde que isso esteja previsto na sua política de investimento.


Já para os investidores qualificados – que tenham investimentos de pelo menos R$ 1 milhão – os fundos comuns podem destinar até 40% dos recursos para aplicações no exterior. Mas para esse mesmo público, existem ainda as carteiras que podem ter 100% do patrimônio aplicado lá fora. Nesse caso, a exigência é de que no nome do fundo exista a inscrição “investimento no exterior”.


A principal vantagem de investir no exterior por meio de fundos é a simplicidade. Esses fundos são brasileiros e funcionam do mesmo jeito que qualquer outro – a única diferença é o fato de aplicarem em outros países. Eles são tributados em 15% sobre os ganhos, se forem de ações, ou seguindo a tabela regressiva do Imposto de Renda (com alíquotas de 22,5% a 15%) se forem de renda fixa ou multimercados.


Existem 80 fundos internacionais no Brasil, entre eles, o do banco Morgan Stanley e o Bridgewater – maior fundo de hedge do mundo, fundado pelo “guru” Ray Dalio – com aplicação a partir de R$ 500,00.


Além disso, os fundos temáticos já estão consolidados lá fora: há fundos cannabis, fundos ESG e os tradicionais fundos em ouro e cannabis.


2. BDR

Os Brazilian Depositary Receipts – ou apenas BDRs – são certificados que representam ações emitidas por empresas no exterior, mas negociados aqui no pregão da B3. São valores mobiliários que têm como “lastro” papéis de companhias estrangeiras, e a partir de setembro de 2020, também brasileiras. Ou seja, os Brazilian Depositary Receipts são certificados de depósito de valores mobiliários que correspondem a títulos emitidos no Brasil, mas que representam ações de empresas no exterior. Eles permitem investir em ativos estrangeiros sem tirar o capital do Brasil, e podem ser convertidos em ações a qualquer momento.


Desde setembro do ano passado, quando a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) anunciou novas regras, os investidores pessoas físicas não qualificados, ou seja, que possuem menos de 1 milhão de reais investidos em ativos financeiros, podem comprar ações de empresas internacionais como Google, Apple, Facebook, Amazon, Netflix, Tesla entre outros, via BDRs.


Ao comprar um BDR, portanto, o investidor não investe diretamente nas ações, e sim em títulos representativos delas. Essas ações existem de fato lá fora, e precisam ficar depositadas e bloqueadas em um custodiante. Quem garante que isso aconteça é a instituição depositária, que emite os BDRs localmente.


Existem dois tipos de BDRs. São chamados de “patrocinados” aqueles em que a empresa emissora participa do programa, contratando ela mesma uma instituição depositária. É interesse dela, portanto, ter uma presença no mercado brasileiro e investidores do país.


Já nos BDRs “não patrocinados”, a iniciativa não parte da empresa emissora, e sim da própria instituição depositária, com o objetivo de oferecer mais opções de investimento a seus clientes. Nesse caso, é ela quem assume a responsabilidade por divulgar informações da empresa emissora, como balanços e fatos relevantes.


Os custos envolvidos são semelhantes aos de uma operação com ações comum. O investidor deve pagar taxa de corretagem, de custódia e emolumentos. A tributação pelo Imposto de Renda é de 15% sobre o ganho obtido nas negociações.


3. ETF

É possível investir em índices de ações estrangeiras no pregão da B3 por meio de ETFs, ou Exchange-Traded Funds. Esse é o nome dado aos chamados fundos de índices que procuram replicar fielmente a carteira de um índice, acompanhando o seu desempenho.


As cotas dos ETFs são negociadas no pregão do mesmo jeito que uma ação individual. A diferença é que cada uma dessas cotas representa uma carteira com dezenas de papéis incluídos. Os ETFs mais tradicionais e negociados na bolsa são os que replicam a composição do Ibovespa. Mas na B3 é possível investir em fundos de índices que replicam o S&P 500, principal referência do mercado acionário americano ou outros índices regionais como o XINA11, das 600 maiores empresas da China, ou o europeu MSCIEurozone, por exemplo.


As operações com ETFs são tributadas da mesma forma que a compra de ações. Em relação à tributação, o Imposto de Renda é de 15% sobre o ganho obtido e não há isenção para vendas abaixo de R $20 mil por mês, como ocorre no caso das ações.


4. COE

Os Certificados de Operações Estruturadas – ou COEs – são um tipo de investimento que mescla características de renda fixa com renda variável. Um COE é uma espécie de “pacote” de operações financeiras, que normalmente envolvem papéis que pagam juros de um lado e derivativos do outro.


Com o uso de derivativos, eles permitem combinações de quase todo tipo. É possível investir em COEs atrelados a índices de ações, moedas de vários países, ouro, entre outros. Por causa dessa flexibilidade, esses certificados também são uma opção para quem quer apostar em ativos internacionais.


Como no caso dos BDRs, investir em um COE não exige enviar o dinheiro para o exterior. Uma das características populares desses certificados é que muitos oferecem uma engenharia financeira para proteger o valor nominal. Assim, mesmo que os ativos aos quais o COE está ligado tenham perdas, o investidor recebe de volta o quanto aplicou inicialmente.


Os COEs têm uma taxa de administração, como os fundos de investimentos, que normalmente varia de 0,5% a 2% ao ano. São tributados pela tabela regressiva do Imposto de Renda, a mesma que incide nos produtos de renda fixa. As alíquotas variam de 22,5% a 15% sobre os ganhos, dependendo do tempo da aplicação.


5. Abrindo uma conta no exterior

Ter uma conta no exterior é legal, embora muitos brasileiros ainda acreditem que não. Se a origem do dinheiro é lícita, não há nenhum problema. Basta escolher uma das centenas de instituições financeiras existentes em países como os EUA. Em boa parte delas, é possível enviar os documentos e abrir uma conta com facilidade. Para abrir a conta em uma boa corretora nos Estados Unidos que aceite brasileiros, a pessoa vai precisar apresentar o passaporte, cópia de comprovante de endereço, RG ou carteira de motorista e declaração de imposto de renda.


Você pode abrir uma conta diretamente numa corretora lá fora e mandar dinheiro do Brasil para os Estados Unidos e negociar as ações diretamente por lá. Mas como tudo tem prós e contras, você vai encontrar a barreira da língua, vai ter que lidar com a regulação, que é diferente da brasileira e também precisará encontrar um lugar confiável para fazer a remessa de dinheiro. Para fazer a remessa do dinheiro do Brasil para fora, será preciso usar um banco ou corretora de câmbio autorizada pelo Banco Central. Entre as corretoras estão a Ameritrade, a Interactive Brokers, a Passfolio e a Avenue (em português e faz a remessa de dinheiro para o cliente). Cada corretora cobra de um jeito e você também paga pelas facilidades a mais que algumas corretoras disponibilizam. Tem que fazer a relação custo benefício se compensa o tanto que se tem para investir e quanto se gastará com a corretora.


Mas, em geral, quando a operação de câmbio é fechada, o cliente paga Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) a uma alíquota de 0,38% sobre o valor. Fora isso, há as tarifas cobradas pela instituição financeira. A cotação do câmbio para a transferência internacional normalmente é baseada no câmbio comercial, mas com um adicional. Se o dólar está cotado a R$ 3,80, a instituição pode usar uma conversão de R$ 3,90, por exemplo. Com o dinheiro lá fora, basta começar a operar nos mercados considerados mais interessantes pelo investidor.


Há alguns detalhes para atentar nessas operações. A cobrança de impostos, por exemplo. Quem aplica em renda variável nos EUA como pessoa física paga Imposto de Renda de 15% para volumes de até US$ 1 milhão de dólares, podendo chegar a 30% para volumes superiores a US$ 20 milhões de dólares. A alíquota incide sobre o lucro obtido lá, e o pagamento é feito no mês seguinte no Brasil com um Darf (documento de arrecadação de receitas federais).


Uma diferença é que eventuais prejuízos das aplicações em bolsa nos EUA não podem ser usados para abater o imposto dos ganhos nos meses seguintes – o que é uma possibilidade para quem compra ações na Bolsa brasileira. A variação cambial também entra na conta, já que a apuração dos ganhos é feita em reais. As vendas de ações abaixo de R$ 35 mil por mês ficam isentas nos EUA, assim como na B3 (aqui, o teto é R$ 20 mil mensais).


Nos investimentos de renda fixa, o pagamento de Imposto de Renda sobre os rendimentos segue a tabela progressiva, com alíquotas entre zero e 27,5%.


Quanto custa investir fora do Brasil?

Nos BDRs, dependendo da corretora, não tem taxa de corretagem, mas tem spread – risco de liquidez – que varia de 0,5% a 1,5%. No imposto de renda, é cobrado sempre 15% sobre o lucro. Não tem a isenção de R$ 20 mil como nas ações. Nos Estados Unidos, até US$ 35 mil é isento.


Nas compras de ações, cada corretora tem um jeito de cobrar, além disso tem que contar o spread cambial e o IOF na hora da remessa de recursos.


Lá fora, acrescente-se, também tem o custo sobre dividendos que varia de 3% a 5% dependendo do valor a ser recebido.


O Imposto Sobre Transmissão Causa Mortis e Doação que é, em geral, de cerca de 4% no Brasil, nos Estados Unidos chega a 40%.


É importante lembrar que para qualquer investimento, o longo prazo é um fator importante de multiplicação do capital. No exterior essa premissa é fundamental. É necessário traçar metas em número de ações e em renda passiva obtida com esses investimentos. Esqueça rentabilidade e variações patrimoniais de curto prazo.


Para ilustrar, a força do investimento no exterior entre 2011 e 2020 o dólar teve uma valorização de cerca 200% (198,2%), com média de ganhos anuais de mais de 11% (11,57%), contra pouco mais de 70% do Ibovespa, da bolsa brasileira (76,61%) e média anual de 5,78%.


Vale lembrar que do final de 2010 a janeiro de 2016 a bolsa caiu mais de 45% por conta de uma jornada de muitas incertezas, crises políticas e fraco desempenho da economia, principalmente entre 2013 e 2016, e enfrentou uma das recessões mais intensas e duradouras entre 2015 e 2016.


É por isso que se faz necessário diversificar e ter investimento em outras moedas para fugir desses riscos do Brasil.



Fonte: https://www.infomoney.com.br/guias/investir-no-exterior/




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